sábado, 24 de junho de 2017

MARIA BONITA

   





















                                           América sonhava. Sim tinha  um sonho. Conhecer Maria Bonita e Lampião. Alguém já lhe dissera que ela era mais bonita que Maria Bonita e seria um perigo se o capitão se apaixonasse por ela. Não estava interessada na pessoa dele, admirava-o por seus atos, mas não o achava charmoso e muito menos bonito. Sabia, por isto, que Maria Bonita não iria sentir ciúmes dela. Seriam muito amigas. Não queria, porém, integrar o bando. Não se via uma cangaceira. Gostava de vida arriscada, mas gostava também de conforto, de vida social. Frequentava todas as festas de Mairi e da vizinhança. Várzea da Roça, Várzea do Poço, Orobó, Capela e Pintadas e todas outras. Foi mesmo numa missa que conheceu seu marido. Sonhara com ele antes de conhece-lo. Diz o povo que se alguém pegar um objeto qualquer, antes de uma estrela cadente sumir e colocá-lo debaixo do trabesseiro, sonhará com o homem com quem vai-se casar. Pois, com América assim foi. Pegou uma pedra enquanto uma estrela caía, pô-la debaixo de seu travesseiro e sonhou com um homem desconhecido. Este terminou por ser marido. Foi em uma missa em Aroeira. A igrejinha estava cheia, pois haveria naquela missa, batismos e casamentos. Uma cavalhada estava chegando do Canto. O povo do Canto era famoso em cavalhada e casamentos suntuosos. Inúmeros cavaleiros e cavaleiras montam garbosos cavalos, ricamente arreados para acompanhar os noivos.  Quantos mais cavalos mais importante era o casamento. Quando se ouviu o tropel dos cavalos quem estava na igreja saiu, das janelas e portas surgiam pessoas de todas as idades. No meio de tantos cavaleiros, America viu, montado em lindo alazão, um homem moreno, de bigode bem aparado, porte majestoso que o distinguia dos demais cavaleiros. Trocaram um olhar. America deixou cair uma flor de seu cabelo. O cavaleiro aproximou-se e sem apear colheu a flor e a entregou a América. Nem uma palavra entre os dois. Nem mesmo um agradecimento da parte dela. Seu rosto corou e todos olharam para ela. Soube depois se tratar do maior amansador de animais da região. Não só isto. Sabia cantar como ninguém. Bom de viola, de pandeiro, de cuia e prato.                              

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